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sábado, 23 de agosto de 2014

bissexualidade, (não-)monogamia and some other stuff

Um amigo me perguntou outro dia se meu posicionamento em relação a relacionamentos românticos é uma questão de política ou de preferência pessoal. 

First of all, rejeitar a ideia de um relacionamento romântico não é o mesmo que rejeitar o amor; quando se fala em amor assim, sem especificar qual o seu "tipo", pensa-se logo em amor romântico, e qualquer outra relação fica relegada a segundo plano. É assim que quando se diz "nah, A e B são só amigos" o que se lê é que a relação romântica está um degrau acima da amizade, e assim vai.

Existem relacionamentos românticos/sexuais que não são monogâmicos, mas o modelo principal que nos é enfiado goela abaixo desde muito cedo não são esses. Também existem relações monogâmicas que dão certo e em que existe respeito e liberdade individual, mas a monogamia ainda tem o ranço da heteronormatividade. 

Dentre os muitos absurdos que eu ouço por aí, um deles é que ter relacionamentos abertos é um individualismo exarcebado; isso só quando se trata da mulher, é claro. Homem cis não-monogâmico não tem nada de revolucionário. A base da monogamia é o fato de que é uma relação fechada, ou seja, seu integrantes supostamente não devem se relacionar com pessoas fora daquela relação. O homem infiel, no entanto, é tolerado - até mesmo esperado. A mulher infiel? Oh well.

Nos moldes da monogamia heterossexual, quem reina é a posse. Voltando à questão do individualismo, em que ponto ele é demais quando se trata de quem nunca foi reconhecido ou tratado como indivíduo? A mulher dentro da monogamia pautada no ciúme é apenas um objeto de posse; algo que você tem e ninguém mais pode ter. Infelizmente esse modelo se infiltra nas relações não-heterossexuais também; tanto porque estamos todos submetidos a mesma sociedade quanto porque esse é o modelo mais palatável, o que tem mais chances de ser engolido pelos heterossexuais como legítimo, mas essa é outra história pra outro dia.

Chegamos na bissexualidade¹, enfim. A mulher bissexual dentro de um relacionamento, de qualquer natureza, com um homem é automaticamente lida como heterossexual. Eu, enquanto pessoa socializada e lida como mulher, não tenho plaquinha pra pregar na testa e andar por aí dizendo "bissexual". Voltamos à individualidade; ser bissexual faz parte da minha identidade. Puramente existir, pra nós, já é um ato revolucionário. Quando digo nós me refiro a pessoas queer, que não se encaixam no padrão heterocis de sexualidade e/ou gênero. Quando uma pessoa me identifica como hetero, ela está na verdade me identificando como o meu opressor. Não sou hetero, nunca fui, não passo a ser durante a relação com algum homem, assim como não passo a ser lésbica quando estou me relacionando com alguma mulher.

So hell yeah, eu prezo pela minha identidade e pela minha individualidade, e minha escolha por não entrar mais nesse tipo de relacionamento de posse tem muito a ver com isso. É por uma questão política, sim, de empoderamento e também de preferência pessoal puramente porque nunca me dei bem com as expectativas colocadas em cima de relacionamentos românticos. All in all, eis a resposta: ambos.


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¹: se liguem que por bissexualidade não quero dizer "atração por homens e mulheres" mas sim pelo meu gênero e outro que não seja o meu. A diferença pra panssexualidade não é tanta assim; panssexualidade seria basicamente não se importar com gênero at all, mas por aqui o termo não é tão difundido, então por questões de visibilidade continuo a me identificar como bi.

Um comentário:

  1. seja quem você quer ser, como querer ser, que no fim nem te muda tanto assim, amar quem quiser, quantos bem entender, do jeito que querer fazer, mas daí o que rola são construções sociais vistas como lei, impedimentos que partem dos outros. independente de como me relaciono com cada um, vejo que para todos eu preciso respeitar limites. não deixar de questioná-los, mas também buscar compreender toda a complexidade dessa bagaça.

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